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CANALHA, INGRATO, EU?


CANALHA, INGRATO, EU?

Diz a história que os cabos eleitorais de Ademar de Barros, político paulista da década de 1950, afirmavam, antes a acusação de que ele era ladrão: “Rouba, mas faz!” Eita, que falta de vergonha na cara!

Mas, por mais absurdo que seja, tem muita gente que defende o direito de roubar dos cofres públicos desde que o sujeito reparta, um “tiquinho”, com os pobres. Ou seja, seja uma espécie de Robin Hood. Só que quem mais perde nestes roubos são exatamente os mais pobres, quando deixam de receber saúde, educação, segurança e outros direitos básicos.

Eu não estaria autorizado a reclamar dos ladrões de dinheiro público se eles têm uma história, verdadeira ou falsa, de ter trabalhado pelo bem da Nação. Sou ingrato, canalha.

Por Deus, quando o sujeito se elege, é nomeado ou faz um concurso público, passa a ter inúmeras vantagens, justas e não justas, para exatamente administrar o dinheiro público com honestidade. Se fez alguma coisa, e normalmente faz, não fica imune à punição por delitos praticados, durante ou fora do cargo público.

Não advogo tratar honestos da mesma forma que os desonestos, mas os ladrões de dinheiros públicos causam mais dano à sociedade do que os ladrões de rua, os assaltantes, os estupradores e traficantes. Todos são maus, mas os que receberam cargo público prometeram agir dentro da lei, de serem exemplos para o povo em geral. Destes é que esperamos os maiores gestos de honestidade e respeito, eles deveriam ser nossos espelhos de retidão de caráter.

Quando quem devia dar exemplo está sendo processado diversas vezes e condenado outras tantas exatamente porque meteu a mão nos recursos do povo, não é adequado exigir desse mesmo povo que o desculpe somente porque ele realizou obras para os quais foi eleito. Ou seja, apenas porque cumpriu sua obrigação.

Não me sinto devedor dos ladrões de dinheiro público. Ao contrário, eu, tu, nós, vós, eles, somos credores desses safados.

Não reconheço aos canalhas que roubaram e aos seus defensores, alguns beneficiados pelos roubos, o direito de me impingir a pecha de ingrato e canalha.

O que eu fiz pela sociedade? Nada, mas o fiz honestamente.

Calem-se!

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João Marcos Adede y Castro

JOÃO MARCOS ADEDE Y CASTRO é graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria, sendo Mestre em Integração Latino Americana, pela mesma Universidade.

 

É doutor em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Universidade del Museo Social Argentino, e doutorando em Direito Civil pela Universidade de Buenos Aires, ambas de Buenos Aires.  

 

Foi Promotor de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul por quase 30  anos, tendo exercido as atribuições de Promotor de Justiça Especializada de Defesa Comunitária, com atuação preponderante nas áreas de defesa do meio ambiente, interesses sociais e coletivos e improbidade administrativa. É Professor Universitário.

 

 É membro e  foi Presidente da Academia Santa-Mariense de Letras, ocupando a cadeira número 16, cujo patrono é o escritor e jurista  Darcy Azambuja. É advogado em Santa Maria, RS.

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